Melhor e pior dia
22:03
Eu estou lendo Quem é você, Alasca? e tem uma parte em que Alasca inventa um jogo cujo os participantes deveriam dizer o melhor dia da vida deles e o pior. Quem falasse o melhor e o pior dia de todos ganhava a rodada e não precisava beber - essa era a maneira que ela achou para que eles não ficassem bêbados tão rápido.
O caso é que eu me peguei pensando no melhor dia da minha vida. Não foi a primeira vez que eu pensei nisso, para ser sincera. Acho que todo mundo alguma vez já pensou e tentou escolher um *melhor*. A melhor série, a melhor música, a melhor frase, o melhor dia. Acho que até hoje eu só consegui escolher a minha série favorita, e vez ou outra eu lembro de outra série e fico caraca, não lembrava o quanto eu amo essa série!. E eu já desisti de ter uma melhor música ou uma melhor frase, mas o melhor dia já é algo diferente.
Quando eu era menor eu dizia que o melhor dia da minha vida tinha sido quando eu ganhei o meu box dos 8 dvds do Harry Potter, mas hoje em dia percebo que a minha vida seria bem bosta se esse fosse o meu melhor dia (agora se fosse o box Wizards Collection, seria outra história...). Então eu decidi enxergar a realidade e percebi que, assim como o Coronel, o melhor dia da minha vida ainda não chegou. E acho que sei como vai ser.
Eu inicialmente comecei pensando no dia em que eu entrasse para a faculdade, mas acho que seria algo a mais que isso. Eu conseguindo o primeiro emprego no ramo em que escolhi, talvez? Não. Vai ser quando eu sair do país. Quando eu for morar sozinha no exterior. Eu consigo visualizar bem esse momento, e é um tanto quando bobo na minha mente. Eu me imagino mais alta e esguia, com uma blusa vermelha de flanela, parada no jardim da minha casa no subúrbio, segurando a chave na minha melhor pose. É realmente meio bobo e infantil, mas eu não consigo imaginar algo que me satisfaça mais. Talvez ganhar na loteria, mas eu nem jogo, para começar.
E talvez muitos escolham o dia do casamento como o melhor dia, e se eu encontrar uma alma gêmea eu já vou ser imensamente grata e feliz, mas sou mais ambiciosa do que romântica. Isso quer dizer que conseguir uma casa fora é mais importante do que casar - porque se eu tenho uma casa em outro país, eu tenho um trabalho. E isso é bem importante para mim.
Eu espero imensamente pelo melhor dia da minha vida, enquanto o pior já aconteceu.
É claro que eu tenho apenas 16 anos e muita coisa ainda vai mudar, e outros piores dias irão surgir (e eu não quero pensar nisso). Mas até agora, o pior dia da minha vida foi quando o marido da minha prima morreu, o Joab.
Admito que eu não sinto uma saudades extrema e irracional dele. A nossa relação já tinha esfriado bastante - passamos de adulto e criança que se implicavam e se amavam para apenas conhecidos. Eu mal falava com ele nos últimos meses, mas ainda senti sua perda. E ainda senti o peso da perda da minha prima e do meu afilhado.
Ainda lembro perfeitamente de como eu recebi da notícia da sua morte. Eu estava no intervalo do colégio e apenas li no grupo da família o horário e o endereço do enterro (assim mesmo, no duro) e eu instantaneamente coloquei a mão na boca e senti os olhos enxerem de lágrimas. E meus amigos não sabiam o que fazer para me ajudar e eu fui chorar no box do banheiro. E então eu pensei na Kelly e no Pedrinho. Eu sentei no chão e fiquei empurrando o vaso sanitário com os pés e eu queria gritar, mas não queria chamar mais atenção. Eu não sabia o que iria acontecer com a vida deles, que mudou drasticamente de uma hora para outra. Eu só conseguia pensar nos dois e em como alguém podia estar vivo em um momento, e morto em outro.
E esse foi o pior dia da minha vida. Eu também havia perdido um familiar, apesar da frieza do nosso relacionamento. Aquele frio e pesar causados pelo luto era horrível, e a preocupação com os meus primos adicionava mais dor no pacote.
O dia não ficou nem um pouco melhor quando o caixão chegou e a Kelly desistiu de tentar ser forte e começou a gritar que não acreditava naquilo. "Eu não acredito não, eu não acredito não!". E o Pedrinho estava tão quieto naquela noite.
E agora eu estou sentindo um arrepio nos braços e um frio nos pés, que não estão nada relacionados a temperatura.
Beijos,
F.
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